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Foto do escritorAna Carolina Rimoldi

O paciente (Reflexão sobre série)


Assisti recentemente a esta série e adorei! Acho que ela pode ser atraente tanto para psis quanto para o público que gosta de drama-thriller. (Existe essa categoria? Bom, se não existe, então eu inventei. Rsrsrs...)

NÃO contém spoiler. Pode ler tranquilamente!


 


A série se desdobra em torno de uma relação muito, digamos, peculiar, estabelecida entre um psicoterapeuta e seu cliente (o paciente em questão). Amarrada nesta trama já bastante complexa, estão os conflitos familiares de ambos, os quais são bastante instigantes tb.

Enfim, não vou dar mais detalhes aqui. Mas quero chamar a atenção para o aspecto central que a série aborda e alguns questionamentos sobre este tema: Quais são os limites de um processo de psicoterapia e, consequentemente, da relação terapêutica? Quão importante é o(a) terapeuta reconhecer seus próprios limites pessoais ao se comprometer com um processo de psicoterapia? Quais são os riscos quando esses limites são extrapolados? É possível uma relação terapêutica efetiva sem empatia entre as partes?


Bom, todos estes e muitos outros questionamentos são possíveis a partir da série. Então, vou comentar um pouquinho sobre esses aqui. Vou começar essa reflexão pelo conceito de relação terapêutica, o qual envolve


"os sentimentos e atitudes que o terapeuta e o paciente têm um em relação ao outro, e a maneira como eles são expressos" (Gelso, & Carter, 1994) .

A partir de tal citação fica clara a resposta para a última questão, pois, se os sentimentos do(a) terapeuta e do(a) cliente são importantes para o processo, não é possível construir uma relação terapêutica sem empatia. Apesar disso, é comum que qualquer uma das partes experimente não apenas sentimentos agradáveis, mas tb sentimentos aversivos no processo de terapia. Quanto mais a terapia se aproximar da vida da pessoa, mas essa variabilidade de sentimentos poderá ocorrer e isso fornece pistas MUITO importantes para o processo de terapia. Porém, não é desejável que a tônica emocional da terapia seja predominantemente aversiva, já que a tendência diante de contextos aversivos é o afastamento e a redução de repertório, efeitos claramente contrários ao que se espera em qualquer processo terapêutico.


Neste sentido, é FUNDAMENTAL que terapeutas reconheçam seus limites. Nós terapeutas não damos conta de tudo e não precisamos dar. Antes de tudo, somos pessoas, com nossas próprias histórias, potenciais e fragilidades. Quando a terapia ultrapassa esses limites, o risco é certo e os danos podem afetar tanto o(a) terapeuta quanto o(a) cliente, podendo, inclusive, envolver falhas éticas perigosas. Então, sempre existe uma escolha neste processo de construção da relação terapêutica e há aspectos importantes que ambas as partes precisam considerar.


Clientes, vcs podem estar atentos ao ambiente relacional proporcionado pelo(a) terapeuta, identificando se há acolhimento, validação, respeito e se o(a) terapeuta consegue entender suas dificuldades a partir do seu próprio contexto de vida, sem impor pontos de vista ou crenças. NUNCA pode haver preconceito, discriminação, violências (nem mesmo as mais sutis) e coerção.


Terapeutas, vcs podem ser gentis com vcs mesmos(as) e estar atentos(as) ao que lhes é mais difícil de cuidar, encaminhando a outros colegas casos que extrapolam suas competências pessoais, mesmo quando vcs têm competências técnicas para isso. Lembrem-se que a técnica não funciona sozinha e que, principalmente, a terapia não se faz de técnicas, mas sim de todo um contexto interacional, do qual vc precisará fazer parte integralmente.


Então, na minha visão, seria IMPOSSÍVEL um processo terapêutico no contexto que a série aborda! Neste caso, não só pra mim, mas para qualquer terapeuta/cliente, pois há uma quebra de condições básicas necessárias para a garantia da construção de uma relação de cuidado saudável e protetiva, como deve ser a relação terapêutica.


Ficou curioso(a)? Falei que não ia dar spoiler, né?! 😉

Mas, me conta aqui nos comentários o que vc acha sobre este tema!


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