Problemas de relacionamento não são novidade de nosso tempo. Sabemos que conflitos interpessoais entre casais, entre pais e filhos ou no ambiente de trabalho existem desde que existe a humanidade. Mas em tempos de comunicação e vidas aceleradas, esses conflitos podem ser ainda mais agravados, uma vez que temos tido menos tempo para conversar (e ouvir). Então, o que está no centro destes conflitos?
Afora as questões particulares de cada pessoa, como sua própria história de vida, padrões de comportamento e questões situacionais, existe um padrão de habilidades comportamentais típico às interações sociais – são as habilidades sociais – e a falta dessas habilidades pode resultar em uma série de dificuldades de relacionamento. As habilidades sociais constituem um repertório comportamental especial, isto é, com características próprias. Essas características dizem respeito à adequação do comportamento às demandas contextuais, ou seja, às particularidades de cada situação.
O que isto quer dizer?
Quer dizer que as habilidades sociais não se referem a um único tipo de comportamento, ou a uma única forma de interação, ao contrário, elas envolvem diversas formas de interação sendo que todas possuem uma característica em comum: conduzem à satisfação pessoal e interpessoal mais do que à insatisfação. Ou seja, o que caracteriza um comportamento como socialmente habilidoso é seu resultado, não sua forma. Assim, quanto mais habilidades sociais nós tivermos, mais competentes seremos em nossas interações com outras pessoas.
Na prática de nossas interações, manifestamos 3 principais tipos de comportamentos, são eles: os comportamentos passivos, agressivos e assertivos. Os comportamentos passivos ocorrem quando temos dificuldade em saber ou dizer o que queremos e pensamos, dificuldade em dizer não, quando acatamos as vontades e interesses dos outros mais do que nossas próprias vontades e interesses. Quem age assim com muita frequência pode se sentir sobrecarregado, desgastado, infeliz consigo mesmo e insatisfeito com a vida, fatores que podem resultar em conflitos interpessoais. Os comportamentos agressivos são aqueles impositivos, em que a pessoa impõe sua vontade, opiniões e desejos sobre os outros, podendo ser ofensivo (física ou verbalmente). Pessoas predominantemente agressivas têm muitos conflitos interpessoais, sentem-se nervosas e irritadas com frequência, sentem-se desgastadas e podem ter uma imagem negativa de si mesmos, podendo experimentar culpa. Já os comportamentos assertivos caracterizam-se pela parceria e respeito, ou seja, o que eu quero e penso é tão importante quanto o que o outro quer e pensa. Assim, a forma de interação caracteriza-se por uma conciliação entre os objetivos pessoais e coletivos. Pessoas assertivas sabem dizer o que querem e pensam, colaboram com outras pessoas, sabem dizer não sem ser ofensivas, sentem-se bem consigo e com suas interações. Assim, os padrões passivo e agressivo relacionam-se mais com os conflitos interpessoais. Porém, não se assuste se você se identificou mais com um padrão de comportamento do que com outro, pois ninguém é totalmente passivo ou agressivo ou assertivo. Todos nós desempenhamos esses padrões de interação em maior ou menor grau. Além disso, ser socialmente habilidoso não significa apenas ser assertivo, mas sim saber agir da maneira mais adequada em cada situação de interação. Dessa forma, em algumas situações pode ser mais útil ser passivo e não expor suas opiniões para evitar uma discussão calorosa no ambiente de trabalho ou então, ser agressivo e defender seu filho ou cônjuge de uma situação de risco.
Comportamentos normalmente incluídos nas habilidades sociais envolvem: proatividade; habilidade comunicativa de forma clara, direta e completa; competências para fazer e recusar pedidos, elogiar, agradecer, desculpar-se; empatia; postura física adequada à situação de interação; contato visual direto com o interlocutor; percepção adequada do ambiente; aparência física adequada à situação; dentre outros.
Uma série de diferentes comportamentos pode ser considerada socialmente habilidosa, desde que eles permitam ao sujeito uma relação interpessoal bem-sucedida conforme as características de seu contexto particular.
Enfim, se estamos falando da saúde de nossas relações, temos que buscar desenvolver nossas habilidades sociais. Desenvolvemos essas habilidades de diversas formas: ao longo da vida, com nossas experiências e o resultado delas; espelhando-nos em modelos de pessoas significativas que apresentam essas habilidades; ou podemos ainda receber instrução e treinamento, quando nossas habilidades sociais encontram-se defasadas e nossas relações prejudicadas. A psicoterapia, especialmente as abordagens comportamentais trabalham com o desenvolvimento e treinamento dessas habilidades em seus clientes.
Assim como o prejuízo em nossas relações prejudica nossa saúde mental, os resultados de agir de forma socialmente habilidosa beneficiam tanto as relações quanto a própria pessoa. Por isso, vale muito a pena investir no desenvolvimento dessas habilidades!
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